segunda-feira, 16 de março de 2020

A chegada do Banco do Brasil em Brejo Santo; por Paulo Gondim

Paulo Gondim


Confira o texto dessa semana do escritor Paulo Gondim. Ele fala sobre a chegada do Banco do Brasil no município de Brejo Santo em meados dos anos 60



Meados dos anos sessenta, foi instalado em Brejo Santo, uma agência do Banco de Crédito do Ceará. (Acho que era esse o nome). Ficava ali na esquina de frente à joalheria de Hamilton Relojoeiro, que antes era só uma portinha para conserto de relógios. Novidade boa! Uma agência bancária em Brejo Santo, embora não sei se teve alguma importância no desenvolvimento dos negócios da cidade, mas gerou alguns empregos. 

Me Lembro que Jesus de João Horácio (que Deus o tenha...) parou de estudar no curso ginasial para ir trabalhar lá. Um dessas decisões absurdas que se faz e se leva a vida inteira pra se arrepender. Esse banco fechou e passou despercebido. Acho que poucas pessoas se lembram dele, dada à sua insignificância. Mas Brejo Santo crescia e já despertava olhares de investidores. Com o primeiro fechamento da Casa Seleta, instalou-se no prédio de boa arquitetura, a loja “A PERNAMBUCANA”, com seu slogam: “preços baixos e cores firmes", trazendo uma novidade não muito boa para a população. Não vendia fiado... Eu cheguei a trabalhar nela, aos sábados, dia da feira e de mais movimento. 

Me lembro das colegas Maria Ambrósio, Antonio França e Socorro Feijó. Essa loja era tão importante que o município que tivesse uma instalada, era considerado em destaque no Nordeste. Como a maioria das empresas familiares no Brasil, o fundador morre e os filhos acabam com o negócio. Tempos depois, a Casa Seleta voltou a ocupar o lugar. 

Mas o que agitou mesmo a cidade foi a chegada do Banco do Brasil, com direito a missa na inauguração da agência e fogos de artificio. Eu nunca entendi aquela missa, que por acaso, ia passando na frente do prédio e vi as velas acesas e um padre paramentado lá, num altar improvisado. Como sempre fui avesso a religião, não encontrava relação entre as coisas da fé e o profano... 

Banco aberto, abençoado, abriu-se a temporada de empréstimos vultosos a quem tivesse “terras” e comércio, o que resultou em muitas quebras e “nego anoitecendo e não amanhecendo”, como se dizia na época, endividado até o pescoço, sem ter como pagar. O banco não dava moleza e quem não pagasse o empréstimo, perdia os bens. Até se o miserável “chamasse a mulher Bem”, o banco tomava. Creio que rolou até uns suicídios... Mas o banco prosperou. 

Me lembro que alguns funcionários montaram um Escritório de Contabilidade na Rua José Matias Sampaio, perto do Cine Alvorada. Precisava-se fazer a contabilidade dos tomadores de empréstimos e facilitar os trâmites do negócio. 

Mas o que agitou mais foi um certo pessoal “casadoiro”. Com tanto bancário ganhando bem, despertou-se um “certo interesse” mais do que óbvio. Casamento! Não faltavam olhos compridos e muitos sonhos. Coitado do rapaz pobre que não fosse bancário... Tinham moças nas festas que só dançavam com os bancários. Me lembro de uma moça que entrou nessa onda e a coitada não era dona de tantos atributos, sofreu o diabo... A vingança foi brava. Ninguém mais a chamava pra dançar! Coisas de uma das leis de Newton, conhecida popularmente por “bateu, levou”. 

Acho que foi daí que surgiu a frase de que o “povo é sempre mais sábio”. Eu como já não ia a festas no clube mesmo, não corri o risco de ser preterido numa contradança. Também não sabia dançar... Mas um bando de rapazes, a maioria. “lisos”, sem emprego, não era mesmo páreo para bancários. O negócio era se conformar e reconhecer seu lugar e vida em mundos diferentes. 

Tive um amigo dos tempos escolares que deixou de falar comigo só porque passara no concurso do banco do Brasil... Dou risada até hoje! Mas Brejo Santo cresceu, recebeu mais outros bancos, uma rede hospitalar boa, novas lojas e só não tem mais lojas por falta de pontos para instalação. O clube, que monopolizava o lazer, tá esquecido, como a moça que só queria dançar com bancário; deu lugar a muitas chácaras e sítios bem estruturados e os rapazes já não precisam mais concorrer com os bancários. Agora, sim, é tempo bom!!!



Paulo Gondim

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