Na semana de aniversário de Brejo Santo, trazemos para você, leitor do blog, mais um belíssimo texto que fala sobre o Município. O texto de hoje é do brejo-santense, Bruno Yacub.
Na época do Segundo Reinado do Imperador Dom Pedro II, a povoação do território de Brejo dos Santos, em 1858 consistia de duas casas: o prédio-logradouro de um curral pertencente ao Coronel Aristides Cardoso dos Santos e uma vivenda pertencente a Antônio José de Sousa e sua esposa, Senhorinha Pereira Lima, bisneta do patriarca do sítio Brejo, Francisco Pereira Lima. Na vivenda de Antônio e Senhorinha, o tropeiro se abastecia de farinha, arroz, fumo, bebida, descansava os animais e depois partia em rumo de Jardim.
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Acervo de Dona Marineusa Santana (in memoriam). |
Foi exatamente naquele ano de 1858 que se iniciou a formação urbana do antigo domínio da viúva Maria Barbosa, com a chegada de José Francisco da Silva, vindo de Águas Belas, em Pernambuco, em companhia de sua esposa e filhos. Logo após a chegada de José Francisco da Silva, sobretudo por serem inimigos do coronel Clementino Cavalcanti, chefe político de Águas Belas, se juntaram numerosos parentes seus, acompanhados de suas famílias, esboçando assim o povoamento.
Anos depois, outras famílias chegavam ao povoado, como os Sá Batinga, de Cabrobó, no Pernambuco; os Pereira de Lucena (chegaram em 1867) e os Alves de Moura (chegaram em 1877), vindos de Nazaré, município paraibano de Sousa, na Paraíba.
Com a chegada de mais colonos, veio também o alento civilizador que modificou o cenário, dividindo os latifúndios em propriedades produtivas, incentivando agricultura e a pecuária, estabelecendo o pequeno comércio, construindo o seu núcleo populacional, o qual, mal desabrochara, sofreu o impacto da Cólera, nos meados de abril de 1862.
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Acervo de Dona Marineusa Santana (in memoriam). |
Passados dois anos, em dezembro de 1864, os pioneiros resolveram construir um templo no povoado, cujo terreno foi ofertado por Francisco Alves de Moura. Padre Ibiapina, peregrino e missionário do interior do Nordeste, traçou as medidas e lançou a pedra fundamental. Conta a tradição que o Padre Ibiapina ao se dirigir à área escolhida para ser medida, dissera em tom profético: “Estenda a linha que será Matriz!”. Com efeito, a linha foi estendida e a capela se tornou Matriz.
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Acervo de Dona Marineusa Santana (in memoriam). |
Após 85 anos aproximadamente, em 1949, alguns anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a localidade agora se chamando Brejo Santo, registrou-se um fato lamentável na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus. Estavam reformando já o velho templo e trabalhadores se encontravam retirando as colunas de sustentação do teto. Em dado momento a cobertura veio abaixo, matando dois pedreiros e saindo muitos feridos.
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Foto: Diocese do Crato |
Com a reforma das colunas e teto, houve também a construção de uma nova torre, esta que se encontra até os dias atuais.
A querida Dona Marineusa Santana, em seu livro Reminiscências, 2000, nos apresenta o já Brejo Santo, na década de 1950. Nas páginas 29 e 30, ela descreve a Igreja Matriz pouco tempo após a reforma.
“Como as pessoas que desconhecem a nossa história, eu me perguntava: porque a Igreja tem a porta principal voltada para a Várzea”? Tem-se a impressão que há algo errado. Porque ela não está de frente para a praça, para o comércio, para o paço municipal? Foi então que perguntando ao meu pai, ele me explicou: Brejo Santo nasceu daquele lado. Primeiro a Nascença, onde tudo começou; depois a Rua Velha onde estavam alocados: a Prefeitura, o comércio, a cadeia, praticamente toda a Vila, com exceção da Taboqueira.
Eu, porém, lembro-me dela, já com toda a área construída, apenas com uma parte inacabada, onde se viam os tijolos sem revestimento. A escada de acesso ao coro era de madeira, o piso de tijolo de adobo e havia uma pequena quantidade de bancos feitos de tariscas de madeira. Como os assentos não eram suficientes, muitos paroquianos possuíam suas próprias cadeiras, semelhantes a genuflexórios. Eram em madeira envernizada, com assentos móveis, em palhinha. “Algumas possuíam até almofadas oferendo assim melhor comodidade aos seus proprietários.
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Foto: Bruno Yacub -2005 |
O sino que comunica aos fiéis os eventos tem uma melodia diferente para cada acontecimento. O compasso diverge, para a chamada da missa, o enterro de adulto ou de anjo (criança).
Delimitando o altar do Sagrado Coração de Jesus, estava a mesa da comunhão para os homens. Entre a parte que foi inicialmente a capela e o restante do templo, havia outra mesa de comunhão, para mulheres e crianças, exatamente no local onde estão as colunas mais largas. Ficavam, portanto os homens na parte da frente e as mulheres e crianças na parte detrás.
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Raro registro da Coroação de Nossa Senhora, celebrada por Padre Pedro Inácio Ribeiro, na década de 1940, anos antes ao desabamento. |
Os altares já eram os mesmos de atualmente, inclusive as imagens. Do altar-mor, o do Sagrado Coração de Jesus, foram retirados dois anjos laterais. Estes ali estavam como se fossem guardiões: cada um segurava à mão um candelabro de cinco velas.”
“O ano de 1957 foi também especialíssimo para a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Brejo Santo. Ela, que desde 1948 até este ano havia recebido como vigários cooperadores os sacerdotes: Rubens Gondim Lóssio (1948-1949), Luís Antônio dos Santos (1949-1951), Manoel Pereira Bezerra (1951-1956) e Nicodemos Benício Pinheiro (1956-1957), é agraciada com a vinda do novo vigário cooperador, o neo-sacerdote Pe. Dermival de Anchieta Gondim, oriundo da cidade do Jardim.”
Por Bruno Yacub
A Munganga Promoção Cultural
O Brejo é Isso!
Fontes bibliográficas:
- Esboço Histórico do Município de Brejo Santo, Otacílio Anselmo e Silva, Revista Itaytera n° 02, de 1956, pág. 187;
- Anuário do Ceará, anos 1953/1954, págs. 57 e 58;
- A Escalada do Tempo, Marineusa Santana Leite, 2002, págs. 21 a 24;
- Reminiscências, 2000. Marineusa Santana Leite, págs. 29 e 30;
- Website: https://cidades.ibge.gov.br ;
- Website: http://diocesedecrato.org.
Fontes iconográficas:
- Acervo de Dona Marineusa Santana;
- Acervo de Ronaldo Lucena;
- Website: https://cidades.ibge.gov.br ;
- Website: http://diocesedecrato.org.
Excelente texto Bruno Yacub, Parabéns!
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