segunda-feira, 5 de outubro de 2020

18% dos cearenses nunca foram ao oftalmologista, aponta pesquisa do Ibope

Foto: Marcelino Júnior

Pelo menos 18% dos cearenses nunca foram ao oftalmologista, de acordo com uma pesquisa de opinião pública sobre glaucoma. O levantamento “Um olhar para o glaucoma no Brasil”, realizado pelo Ibope Inteligência, foi aplicado em junho deste ano via internet. A pesquisa contemplou, além do Ceará, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Entre estes, o índice cearense foi o maior.


Em outubro, marcado como Mês Mundial da Visão, o dado acende um alerta vermelho, conforme explica o oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), Augusto Paranhos Junior. “Isso mostra um desconhecimento das doenças, além de uma falta de assistência. Um exame oftalmológico não é tão acessível assim, dependendo de cada lugar do País, como nos interiores”, ressalta.


Cuidados


A comerciante Manuele Costa, 38, sentiu a diferença de um diagnóstico adequado ao recorrer em julho desse ano, após ficar parcialmente sem visão. “Fui tomar banho e percebi, quando acendi a luz, que não enxergava direito do olho esquerdo. Isso foi três da manhã de um domingo. Na segunda, corri para fazer os exames e saber o que era”, relembra.


A médica, recorda Manuele, ficou aliviada com a procura imediata da paciente. “Se eu tivesse demorado mais um pouquinho seria pior porque toda hora conta quando o assunto ‘é da vista’. Lá eu descobri que era um ‘trombo’ no olho”, conta.


Manuele recorreu a uma clínica particular em Fortaleza para um resultado rápido. Embora a procura por atendimento oftalmológico tenha sido “instintiva”, a comerciante admite não procurar a especialidade com frequência. “Hoje está tudo bem com o olho. Mas aquela foi a minha segunda consulta na vida. Minha primeira foi há 14 anos também por conta de um trombo. Eu sou portadora de lúpus e tenho que me cuidar mais. Agora prometi a minha família que vou a cada seis meses”.


O glaucoma, neste contexto em que os pacientes só procuram atendimento após sintomas mais graves, como a perda da visão, preocupa. Ainda segundo o Ibope, 42% da população cearense não sabe o que é a doença. “Existe uma célula que faz comunicação do olho com o cérebro chamada célula ganglionar da retina. Ela que morre no glaucoma. E, para enxergar, tudo precisa estar funcionando bem no olho. Contudo, há mecanismos no nosso corpo que fazem com que a gente não perceba a perda dessa célula e consequentemente, não há sintomas aparentes do glaucoma”, explica.


A pesquisa mostra que mais da metade (55%) dos entrevistados no Ceará desconhece que a doença possui a maior probabilidade de um quadro de cegueira irreversível. “Até quando o paciente acha que é uma catarata pode ser um glaucoma avançado. Aqui é importante ressaltar que a célula não regenera, então no diagnóstico tardio não tem o que fazer a não ser preservar o pouco de visão que sobrou”, esclarece.


Paranhos coloca entre o grupo mais propenso ao glaucoma as pessoas com casos na família, afrodescendentes e pacientes com pressão intraocular elevada.


Pesquisa


No Ceará, foram 280 entrevistados, a partir dos 18 anos. Destes, 33% acreditam que a visita ao oftalmologista deve ser frequente somente para quem usa óculos. Já 13% consideram uma visita ao especialista anualmente somente quando têm alguma dor nos olhos.


Conforme o presidente da SBG, é preciso ir ao oftalmologista no primeiro ano de vida. “Se tudo estiver normal até a fase da adolescência, é necessário retorno apenas por queixa. Ninguém pode passar dos 40 anos sem ir ao oftalmologista”, alerta o médico.


*Fonte: Diário do Nordeste

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