quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Brejo Santo dá um passo importante para a implantação da primeira Escola Indígena do Cariri

O povo Isú-Kariri ocupa um território ancestral que se distribui entre os municípios de Brejo Santo-CE, Jati-CE e São José do Belmonte-PE. Nos últimos anos, um grupo da etnia tem se organizado politicamente, e, junto ao movimento indígena tem construído a luta para que os direitos previstos na Constituição Federal de 1988 sejam garantidos pelo Estado, dentre eles a Educação Escolar Indígena e o atendimento pelo sistema de saúde para  demandas específicas dos povos indígenas. 


No segundo semestre de 2023, após a interpelação do Movimento Indígena, de Universidades e do Ministério Público, o povo Isú-Kariri recebeu no seu território funcionários da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), que produziram um amplo diagnóstico sobre as aldeias. Como resultado, a FUNAI emitiu uma série de ofícios demandando de setores específicos dos entes federativos a urgência para a criação das Escolas Indígenas e de postos de saúde indígena para atender o povo Isú-Kariri em Brejo Santo.  


Ontem, dia 10 de Janeiro, a Liderança Isú-Kariri, Simone Kariri, se reuniu com a Prefeita de Brejo Santo, Gislaine Landim e com o Secretário de Educação Básica de Brejo Santo, Jucélio Santos e formalizaram a criação da primeira unidade da Educação Escolar Indígena do povo Isú-Kariri, em Brejo Santo.

 

Neste primeiro ano a escola vai atender estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e da Educação para Jovens e Adultos.


No próximo dia 20 de janeiro, o povo Isú-Kariri iniciará um ciclo de partilha e escuta com as comunidades para construção coletiva do Currículo específico e diferenciado do povo Isú-Kariri.


Os povos indígenas têm direito a uma educação escolar diferenciada e intercultural (Decreto 6.861), bem como multilíngue e comunitária. Seguindo o que diz a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a coordenação nacional das políticas de Educação Escolar Indígena é de competência do Ministério da Educação (Decreto nº26, de 1991), cabendo aos estados e municípios a execução para a garantia desse direito dos povos indígenas.


A partir deste ano, o povo Isú-Kariri terá garantido o direito de ensinar a sua história, os seus conhecimentos e sua cosmovisão para as suas crianças e jovens. Segundo o Cacique Raimundo Isú-Kariri, “não podemos deixar de repassar para as novas gerações os nossos conhecimentos sobre as plantas medicinais, os nossos processos próprios de cura, os nossos conhecimentos sobre a agricultura Isú-Kariri, a nossa forma de conviver e cuidar da natureza”.


Segundo, o Prof. Willian Kurruíra, da Universidade Federal do Cariri, a Escola Indígena não deixa de ensinar todos os conteúdos das outras Escolas (matemática, Português, Ciências, etc), mas possibilita que estes conhecimentos sejam aprendidos a partir dos processos comunitários e ancestrais, dando muito mais significado e afetividade à trajetória de aprendizado. Segundo o Prof. Willian, outra garantia será o ensino Bilíngue, ou seja, além da Língua Portuguesa, a Escola Indígena Isú-Kariri irá ensinar a Língua do povo, o Dzubukuá, a nossa língua ancestral que, mesmo com toda violência colonial, ainda se mantém viva em muitos territórios Kariri.


Em tempo:

Importante destacar que no estado do Ceará já existem cerca de 40 escolas Indígenas. Com a implantação, Brejo Santo cria a primeira Escola Indígena do Cariri cearense e paraibano.


Em 2024, a Universidade Federal do Cariri, no campus Brejo Santo, irá iniciar a formação de Professores Indígenas através oferta da Licenciatura Intercultural Indígena, quando no ingresso no Programa Saberes Indígenas na Escola - MEC.



*Da redação do Blog do Mateus Silva.

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