terça-feira, 10 de março de 2020

O engenho de Seu Zé Jacinto em Brejo Santo; por Paulo Gondim

Paulo Gondim

O Engenho de seu Zé Jacinto 

Resquício, talvez, dos anos 40, parecia mais um castelo medieval, erguido na encosta do serrote, tendo a sua frente o lago da nascença. Era o engenho de cana de açúcar de Seu Sé Jacinto, todo construído de pedras, paredes largas e não muito altas. Laterais abertas e a chaminé, que dominava a entrada do prédio. Sempre achei esquisita e ainda acho até hoje, revendo fotos, aquela chaminé, que não era muito alta, feita aproveitando o desnível do terreno. Mas estava sempre soltando fumaça no tempo de moagem.


Outra coisa que achava engraçado era um trabalhador espalhando o bagaço da cana no grande pátio do engenho, que se estendia até pertinho das casas da nascença. Esse senhor espalhava o bagaço para secar e depois recolhia com um coro de boi, trazendo uma grande quantidade de bagaço para alimentar a caldeira que movia as máquinas e a fornalha que aquecia o caldo (garapa) da cana para fazer a rapadura. Aquele homem passava o dia todo espalhando e recolhendo o bagaço, cuja carga parecia maior do que suas forças, como uma formiga que carrega uma folha várias vezes mais pesada do que ela. Mas o bagaço seco, na verdade, era leve. 

O cheiro bom do mel aquecido era uma maravilha! Enquanto os trabalhadores iam colocando o mel já endurecido, “no ponto’, nas formas de rapaduras, pedaços de cana eram mergulhados no mel quente, para fazer os tão cobiçados “alfenins”. As pessoas saíam contentes e iam “puxar” o mel que parecia uma camada de cola na cana, até ele “morrer”, ou seja, perder a elasticidade e ficar branquinho e crocante. Tempos depois, ouvi uma música, se não me engano de Jair Rodrigues, e falava de um vendedor de  “Puxa Puxa”, que nada mais era do que o nosso “alfenim”. Eu fui poucas vezes no engenho. 

Via mais quando ia lavar roupa com minha mãe na parede da nascença. Um dia, com outros meninos, resolvemos ir ao engenho. Um deles, disse que iríamos pegar alfenim. Viagem perdida. Eram vendidos! E menino “liso” não era muito bem-vindo por lá... Fazer o quê... Valeu a tentativa e ainda deu pra ver, de longe, as moendas de ferro torcendo a cana e as formas de rapaduras fumegantes. Mas ainda, de consolo, ganhamos uns bons pedaços de cana, o que diminuiu nossa frustração. “Se só tem tu, vai tu mesmo”, diz o ditado popular ou como minha mãe dizia:”Melhor perder no boi, do que o boi todo”! E assim era a vida de menino na época, feliz com o mínimo possível, até com um taco de cana para descascar e chupar! 

O tempo passou, o engenho e as casas foram demolidas. O sítio de cana e frutas que havia entre a parede da nascença e a “rodagem” acabou-se...  As lavadeiras deixaram seus postos e a nascença secou. A cacimbinha foi, sem motivo, nenhum aterrada e a casa do motor derrubada. E assim, por esses desastres de desamor à cultura, a destruição do engenho e das casas da nascença, sem necessidade nenhuma, porque até hoje, nada se fez no lugar, poderiam perfeitamente estar lá para contar a história.  Seria hoje um ponto turístico importante para Brejo Santo.

PAULO GONDIM

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