quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Brejo Santo - Acrislaine Pereira escreve sobre Seu Chico de Sinésio e a Caldeira do Inferno

Foto: O Povo Online
Hoje, 20/02/2019 seu Chico de Sinésio comemora seus 77 anos. Confira o texto de Acrislaine Pereira Alves Maia, sobre seu Chico e a Caldeira do inferno.


SEU CHICO E A CALDEIRA

Se você ouvir 'Caldeira do Inferno', o que você imagina?

Diabinhos fervendo na lava borbulhante né? 

Eu, menina, pensava as piores e mais aterrorizantes situações endemoniadas!

Quando a feira do rolo era na antiga praça, na década de 80, lembro de passar sempre por lá, depois de pegar meu picolé de coco da maguary, no Bar de seu Zé Frutuoso.

Dai eu seguia com mamãe pra feira do rolo, pra ver os pássaros que também eram comercializados ali, na época. Ela sabia que amava os bichinhos e todo sábado me levava pra ver, mas nunca me deixou comprar. Dizia que era maldade com os bichos indefesos, prendê-los ainda mais se tinham asas. Eles deveriam voar no céu. 

Eu me conformava só de ver e esse itinerário era uma das melhores coisas. De lá do meio da passarada engaiolada, a gente via a movimentação na Caldeira.

Mamãe dizia que eu não podia ir lá, "era um lugar só para homens" ela dizia. Eu sempre muito curiosa, nas idas e voltas da feira, esticava o pescoço pra espiar o que era tanto que podia acontecer, num lugar tão pequeno.

Além disso, quando era carnaval, lá ficava de tocar terror em qualquer um, porquê a galera do Cabeção se concentrava lá. Verdadeiros diabos negros, emassados, mascarados, alguns de mortalha preta, e naquela época eu não saberia, mas não tinha nada de macabro naquilo. No imaginário popular, o cabeção era quase uma seita e a caldeira, o templo.E seu Chico encabeçando tudo.

Eu não via nada demais naquele moço de bigodes simpático. Ele não tinha nada de assustador!
Mais tarde, devido a minha relação com o querido Wanderley da Coelce, comecei a frequentar a caldeira. O bar agora, no calçadão,  mais acessível, não me metia mais medo. Ao contrário. 
Sinto uma quentura, uma nostalgia. Penso em Wanderley e em tantas vezes neste mesmo dia, em que eu ia com as meninas festejar o compadre mais querido dele. 

Esses dias, a Caldeira fica em festa. Lá de onde já saíram tantos cantores, compositores, músicos, poetas. Lá era um antro de artistas, e durante todo dia eles voltam lá e festejam com seu Chico. 

A caldeira também era um dos lugares em que o saudoso Welington Landim, parava pra comemorar suas vitórias. 

A Caldeira é patrimônio cultural e acho que ela lembra um museu. Com tantas fotos e objetos de todos, TODOS, que já passaram por lá.  Todos que deixaram uma marca, mesmo a mais leve.
Se passo por lá em qualquer hora, tenho que parar e falar com seu Chico por quê o sorriso que ele dá,  enche qualquer dia de alegria. É um sorriso colgate, impagável, seguido de todas as gentilezas que são tão raras em tantos, mas tão comuns nele.  

Mais uma primavera chega para esse homem. O dono da Caldeira e fundador do Cabeção, e sei que o dia vai ser pequeno pra festejar.

Seu Chico, me aguarda! Eu vou estar lá 

Acrislaine Pereira Alves Maia.

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