quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Por Silvinho - AO MESTRE COM CARINHO; Seu Silas - "O Garotão"

Nosso leitor, Silvino José da Cruz Neto faz um relato sobre Seu Silas, mais conhecido como ''O GAROTÃO''.

Silvino José da Cruz Neto – Especialista em segurança publica, Cabo da Policia Militar do Estado do Ceará – Graduado em Administração Publica pela Universidade Estadual do Ceará - UECE

AO MESTRE COM CARINHO

Como leitor assíduo de boas matérias, fiquei muito feliz ao ler o artigo da querida Fátima Teles que remontou a história de um dos grandes homens que fez e faz parte da memória da nossa Brejo Santo. Palavras em forma de homenagem justíssima ao tão notável Heitor Nicodemos. 

Mas eu como amante de esporte e sabendo do apreço que Heitor tinha por essa pessoa, me achei na obrigação de procurar o dono desse notável blog e o pedir permissão para tecer algumas palavras para falar de SILAS JOSÉ DE JESUS, para os que lhe conheceram, apenas, “O Garotão”. 

O pouco que posso contar é justamente sobre mim e ele, isso a pouco mais de vinte e seis anos, “direto do túnel do tempo”. 

Naquela época em Brejo Santo o futebol era pouco difundido, até a seleção brasileira conquistar nos Estados Unidos o tetra campeonato mundial. Foi uma euforia e o nosso país passou a ter novos ídolos, já que acabará de ficar órfão de um dos seus ícones maiores, Ayrton Sena da Silva. 

Eu, menino de classe média baixa, morador do bairro São Francisco, sequer havia tido contato com uma bola, nem mesmo na escola. Nosso bairro era carente de quadras ou campos. No entanto e, ainda contagiado com o futebol de Romário, Bebeto e companhia Ltda, me despertou uma vontade imensa de ao menos possuir uma bola. 

Amigos tinha de montão, mas todos assim como eu, apenas jogadores de bila, pião, soltadores de pipas, até mesmo verdadeiros velocistas na hora da “bicheira”, eram definitivamente camaleões na arte de se esconder.  

Por capricho do destino naquele mesmo ano mudei de bairro. Fui para periferia, um bairro pobre, contudo, o celeiro do melhor futebol da cidade. Os times do vasquinho e douradinho eram conhecidos na região. O bairro o qual me refiro era o Morro Dourado, onde morei justamente de frente de um campo de futebol.  

Lá tive que refazer minhas amizades e aprender novas brincadeiras, dentre elas, Jogar futebol. Além de morar perto do campo, morei vizinho ao melhor jogador com quem já joguei o qual mais tarde passamos a ser fãs um do outro. Esse foi meu amigo Francivaldo Arruda do Nascimento, pra mim apenas meu amigo “B”, assassinado covardemente no ano de 2007. 

“B” mesmo com a pouca idade me ensinou tudo que sabia, ele realmente era um passo a frente das crianças que jogavam futebol naquela época. Ele me preparou para eu conhecer Seu Silas.

Mesmo morando no Morro Dourado, continuei estudando numa escola do São Francisco e lá ouvi falar da “escolinha do garotão” que funcionava no ginásio Welingtão. Meu pai nunca foi amante do futebol e nunca foi a favor que eu jogasse bola, porém recorrendo a quem podia, chorei nos pés de minha mãe para me inscrever na escolinha e ela atendendo o meu apelo assim o fez. 

Fui para o meu primeiro dia. Lá encontrei várias crianças todas um pouco apreensivas. Cheguei faltando apenas cinco minutos para as quatorze horas. E pontualmente, as duas da tarde, surgiu um senhor de cabelos grisalhos e de pernas tortas carregado duas bolas sob os braços. Os meninos que a pouco faziam barulho, silenciaram repentinamente. Naquele momento nada pude entender sobre aquela reação. Ele se aproximou do portão, deu boa tarde e todos responderam em uníssono. O portão abriu e não houve correria, todos estavam alinhados e assim permaneceram até sentarem dentro da quadra, onde segui a mesma linha. Ainda estava sem entender. 

Depois que estavam sentados ele percorreu os corredores que se formaram, fileira e coluna. A medida que andava ele dava algumas explicações a mais dois ou três alunos que estreavam como eu. Falou sua didática e suas regras. Estabeleceu limites dentro e fora de quadra. Cobrou respeito aos pais e aos professores, não admitia brigas ou discussões e todas as quartas e sextas durante sete anos de minha vida escutei aqueles ensinamentos e aos poucos fui entendendo sobre o primeiro dia.

Mas ainda sobre o primeiro dia minutos depois que a bola rolou, um fato me marcou até hoje. Eu nunca havia pisado numa quadra até então. Jogava futebol de várzea muitas vezes descalço. Contudo, quando fiz minha inscrição era indispensável o uso de um tênis adequado. Inocentemente, fiz minha mãe comprar um “Kichute” e pra quadra esse modelo não deu muito certo. Cada chute era uma queda. Até que vendo aquela situação Seu Silas parou o jogo e me chamou: “oh Garotão, venha aqui. Deixa eu ver seu tênis. Você só tem esse?”. E eu respondi que sim. E ele: “ Esperem um pouco, volto já”. Ele deixou o ginásio e em pouco mais de cinco minutos estava de volta com um tênis na mão. “Olha se esse cabe pra você”. Calcei o tênis e coube direitinho no meu pé e ele disse: “Jogue agora e vamos ver se você vai cair”. Acho que fiz um dos melhores jogos de minha vida. 

Ao termino, fui devolver o tênis e ele falou: “ Você num disse que só tinha esse outro? Então quando seu pai comprar um que sirva pra jogar futsal você me devolve”. Sai dali na certeza que havia ganhado um grande amigo mesmo sem entender por que ele fez aquilo por mim. 

Meses depois descobri que o tênis era do filho dele e quando fui devolver após ter comprado outro ele disse que podia ficar, que gostou de me ver jogando com ele. 

Com seu Silas aprendi valores que até hoje carrego. Meu filho conhece essa história e também lhe repasso tudo aquilo que aprendi com o “Garotão”. Por ele, tinha o mesmo respeito que tenho por meu pai.

AMIZADES QUE PERMANECEM
Tive a honra de ser capitão do seu time e de jogar ao lado dos melhores. Dentre ele vou citar alguns com quem joguei ou que vi jogar. Os melhores. Flaecio, Ernandes, Fabiano, Betinho(bradesco), Kilmer, Dacio, Marcilio, Isaac, Samuel, Kleto(catanã), Wellington, Cônica, Ronivon, Libonio, Junior(PM), Rocha, Disson, Feijó, Fabinho, Vei Leo, Leo Rato, Waguinho, Heldinho, Soya(in Memória), Das uvas, Estécio, Almir, Oscar Fagner, gaguinho. Tadeu, João Neto, Jader, Weberth, George, Noca, Keke, Claudinho, Weverton(academia).    

Seu Silas partiu para o plano celestial, mas deixou um legado de muito respeito e admiração. Publicamente só tenho a dizer: MUITO OBRIGADO GAROTÃO. 

Silvino José da Cruz Neto – Especialista em segurança publica, Cabo da Policia Militar do Estado do Ceará – Graduado em Administração Publica pela Universidade Estadual do Ceará - UECE

4 comentários:

  1. Linda matéria, parabéns pelas palavras.. me fez conhecer mais ainda essa pessoa iluminada que foi meu avô.
    Pela familia do garotão agradeço o carinho, fiquei muito feliz de lê essa matéria.

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    1. Melhor pessoa, padrinho amado está no plano espiritual a olhar por todos nós <3

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  2. Linda matéria, parabéns a todos os envolvidos em especial a Silvino. Me fez voltar no tempo e recordar os momentos de felicidade que assim com Silvino tive a honra de viver ao lado deste Grande Homem e desta "Garotada".

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  3. Melhor pessoa, melhor padrinho muita honra de ter sido sua afilhada, saudades eternas <3

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