segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Artigo - A doença mental está jogada na rua

Com o título “A doença mental está jogada na rua”, eis artigo do médico, antropólogo e professor universitário Antonio Mourão Cavalcante. Ele aborda dois casos que chamaram a atenção da opinião pública na última semana. Confira:

Duas informações despertaram minha atenção na última semana. Primeira, uma família, em Fortaleza, que estaria sendo guardada em cárcere privado. O pai, com medo de violência contra os filhos, teria deixado de levá-los à escola e eles passavam o tempo todo reclusos no apartamento da família. Os filhos só saiam acompanhados.  Assisti o pai em uma entrevista à televisão. Estava totalmente desnorteado, confuso, referindo perseguições que não conseguia distinguir ou explicar. Tinha um olhar tenso, trêmulo, evasivo. As mãos em movimentos estereotipados. Sua mente parecia muito perturbada e as autoridades tratavam-no como perigoso marginal…
A segunda notícia veio de São Paulo, onde um jovem de 27 anos, em transporte coletivo, ao se masturbar, teria ejaculado, derramando esperma no braço de uma passageira. Essa não era a primeira vez que ele fazia isso, nem a última.  Ainda nesse final de semana, foi novamente detido por realizar idêntica proeza, com outra mulher, em transporte coletivo. Em todas as oportunidades – mais de 15 (quinze) vezes! – foi detido e em seguida liberado…
Estas situações descritas e tantas outras revelam o comportamento de pessoas que se encontram mentalmente enfermas. Atônitas, as autoridades não sabem o que fazer! Iriam simplesmente colocá-los em um presídio? Temos instituições públicas que acolhem pessoas com distúrbios psíquicos? O acompanhamento é feito de forma técnica, científica? E, por que a solução sempre passa por detenção, xadrez, violência: “está precisando é de uma surra boa!”
Simplesmente, não sabemos como lidar nessas circunstâncias. A tendência é usar a força, a repressão, a contenção física.
Por motivação profissional, tenho observado que grande parte dos chamados moradores de rua possui um perfil mental comprometido. E, nesses casos, ou foram abandonados por – família, trabalho, amigos – por manifestarem alguma dificuldade psíquica ou a vivência desse modo, muitas vezes reforçado pelo uso de drogas, acabam se tornado portadores de graves distúrbios mentais.
Esta situação, em resumo, vem mostrar que o poder público não está nem aí para esse problema, como não se interessa em aprofundar a responsabilidade em busca de alternativas mais dignas e humanas.

Melhor chamá-los de vagabundos ou perigosos marginais. Apela para polícia. Mete o cacete e fim de papo!…
Antonio Mourão Cavalcante.
Médico e Antropólogo. Professor Universitário.

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